Não sou fã de me expor, mas fiquei pensando no que poderia por aqui… o que fazer quando inúmeras tentativas caem no escuro? O que fazer quando parece não haver alternativa?
Não tenho respostas para essas questões, mas a dificuldade para se concretizar a chegada de alguém tão desejado é um punhal no meio do peito. Parece que rasga e tira o ar e o que fica é vazio. Parece que é tão fácil para tanta gente… e gente que nem deveria ser pai. Sim, eu julguei e julgo, não nego.
Às vezes rola culpa de algo que nem se sabe, de alguma coisa, qualquer coisa. A ira – sim, é ira, algo que parece maior que raiva – de ver outras pessoas conseguindo, a distância de qualquer coisa relacionada a gravidez e afins. A tristeza da aparente impossibilidade se repetindo, a ansiedade de será que agora… mas o agora não chega. A sensação de que não é para mim. Vai saber se fiz algo errado… Medo a cada novo talvez. O choro pesado que se esconde no canto.
Os valores gastos que parecem parcelas sem fim. Bora trabalhar mais e sentir menos. Não vou dizer que não funciona, mas a conta chega e é alta.
Eu fui criado para não depender de ninguém, ouvindo que tudo que eu fazia seria pouco, que era irresponsável e apesar de trabalhar com saúde mental masculina, também sou assombrado por fantasmas como devo ser forte, dar conta de tudo, cuidar, minha esposa é que precisa. E não, eles não somem por completo, eles me visitam com a diferença de que hoje eu escolhi dançar com eles para que não fossem tão gigantes e nem eu tão pequeno.
Aprender essa dança não é fácil e nem sei como funciona, não tem fórmula. E dói pra caramba. Mas ao final do dia, às vezes semana, traz uma ponta de alívio.
A ausência de espaços e redes de apoio específicas deixaram a sensação de que não há mais ninguém, de que se está sozinho no meio de um mar brabo sendo jogado pra todo lado.
Pode parecer que não se precisa de cuidado e nem sei direito como receber, me atrapalho quando vem, parece errado, mas ele é fundamental pra se aprender a caminhar com a ausência. Não porque ela vai sumir, não some, mas pra não se sentir um estranho no meio de nada.
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Gabriel Villaça
Pai de alguém que já se foi, mas segue vivo em mim, usuário de serviços de reprodução assistida há 8 anos.
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