Entendendo como funciona um banco de sêmen

Por Letícia Arruda, Diretora e fundadora do Vida Fértil- Banco de Sêmen.

A reprodução assistida é um assunto em alta na mídia brasileira, entretanto, ainda temos poucas vozes falando abertamente de como funciona o processo para utilizar um sêmen de doador. O uso de um banco de sêmen possibilita que muitas famílias que não possuem gameta masculino, o espermatozoide, possam ter filhos. Desta forma, precisamos desmistificar todas as etapas desde a triagem do doador até o uso do sêmen doado, tornando essa informação mais acessível a todos.

No Brasil, as doações devem ser obrigatoriamente voluntárias e anônimas, ou seja, o doador de sêmen não pode ser remunerado pela coleta e deve ter a identidade mantida em sigilo. Esses pontos são diferentes se compararmos com outros países, como é o caso dos EUA, onde os doadores ganham dinheiro e podem optar por revelar a sua identidade para a criança. Portanto, os bancos de sêmen no Brasil têm uma dificuldade maior em atrair candidatos, que embora sejam beneficiados com os exames e consulta médica, têm como principal motivação a realização de ajudar muitas pessoas a formarem uma família.

O banco de sêmen é responsável por fazer a seleção dos doadores, seguindo as recomendações dos órgãos competentes no nosso país. Os candidatos precisam ser aprovados em diversas etapas, que incluem: a realização de exames, avaliação da qualidade da amostra seminal, avaliação médica e genética. A avaliação da qualidade da amostra seminal é a etapa que mais elimina candidatos, pois não basta que a amostra se encontre dentro dos parâmetros da normalidade, é preciso que ela tenha ótimos parâmetros que estão cada vez mais difíceis de encontrar na população devido à queda da fertilidade masculina. Os exames para doenças infectocontagiosas realizados seguem a recomendação da ANVISA, como HIV 1 e 2, Hepatite B e C, dentre outras. A triagem genética dos doadores consiste na realização do cariótipo e pesquisa para traços falcêmicos. Além desses, visando trazer uma maior segurança para os pacientes, alguns bancos realizam também o Painel de Portadores, para detectar a presença de variantes genéticas associadas a doenças graves e uma avaliação por um médico geneticista. Na avaliação médica, o doador é entrevistado para o seu histórico de saúde e da sua família, com o intuito de evitar que apresente algum histórico de doenças hereditárias. Em resumo, para que um candidato se torne um doador de sêmen, ele deverá cumprir todos os pré-requisitos, que são: 1) ter uma amostra de qualidade; 2) ter os resultados negativos para as doenças infectocontagiosas, 3) ser aprovado na triagem genética e médica.

Após esta seleção, o doador doa várias coletas de sêmen que serão congeladas no banco de sêmen e permanecerão guardadas até que ele retorne para a repetição dos exames finais e de liberação. Essa repetição garante que as amostras não estejam contaminadas e traz total segurança para quem for utilizá-las no futuro. Assim, as amostras seminais somente são disponibilizadas para uso, caso todos os resultados dos exames sejam negativos.

Os pacientes que necessitam utilizar um sêmen doado procuram o banco para fazer a escolha do doador. Antes de iniciar a busca, que normalmente acontece através de sites, é necessário saber qual procedimento irão realizar (fertilização in vitro ou inseminação), pois as amostras de sêmen são específicas para cada um deles. Para a escolha do doador, os pacientes podem acessar uma série de informações físicas, tipo sanguíneo, hábitos de vida, informações da sua família e muitos detalhes sobre os doadores, incluindo toda a triagem realizada. Além disso, um comentário da equipe do banco sobre aquele doador é adicionado ao perfil, junto com a motivação que levou ele a doar e a semelhança dele com algum artista famoso. Uma outra facilidade disponível é o uso de tecnologia de inteligência artificial para comparar a foto do doador com a foto do cônjuge, chamada de pareamento facial. Todas essas informações e tecnologias, vem para auxiliar nesse momento que é superdifícil, pois o ideal é encontrar um doador com características parecidas às do parceiro e essa busca pode não ser fácil. É importante lembrar que como o sigilo da identidade é obrigatório no Brasil, não é permitido fornecer fotos dos doadores.

Após a escolha do doador, o banco de sêmen encaminha a documentação necessária, tanto para os pacientes quanto para a clínica. Esse é um ponto importante: o banco de sêmen não pode fornecer amostras diretamente para os pacientes, sempre a entrega da amostra será para uma clínica de reprodução onde o procedimento será realizado. Quando a documentação é finalizada e a amostra faturada, o próprio banco de sêmen agenda o transporte para a clínica. Existem tipos de transportes diferentes, sendo que os mais indicados, são os que mantêm as amostras congeladas em nitrogênio líquido. O tempo de entrega normalmente é em torno de 5 dias úteis, porém o ideal é que a amostra esteja na clínica antes do início das medicações.

O processo de triagem dos doadores de sêmen é extremamente rigoroso, resultando em amostras de qualidade e garantindo segurança a quem precisa utilizar uma amostra de banco de sêmen. A escolha do doador pode não ser uma tarefa fácil, porém um número grande de informações é disponibilizado, tornando possível escolher uma amostra com as características desejadas e realizar o sonho de construir uma família.

 

Image de Harryarts no Freepik

 

 

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